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Poesia de Castro Alves

Tragédia no lar

Na Senzala, úmida, estreita, Brilha a chama da candeia,
No sapé se esgueira o vento. E a luz da fogueira ateia.

Junto ao fogo, uma africana, Sentada, o filho embalando,
Vai lentamente cantando Uma tirana indolente,
Repassada de aflição. E o menino ri contente...
Mas treme e grita gelado, Se nas palhas do telhado
Ruge o vento do sertão.

Se o canto pára um momento, Chora a criança imprudente ...
Mas continua a cantiga... E ri sem ver o tormento
Daquele amargo cantar. Ai! triste, que enxugas rindo
Os prantos que vão caindo Do fundo, materno olhar,
E nas mãozinhas brilhantes Agitas como diamantes
Os prantos do seu pensar ...

E voz como um soluço lacerante Continua a cantar: Eu sou como a garça triste Que mora à beira do rio, As orvalhadas da noite
Me fazem tremer de frio.
Me fazem tremer de frio Como os juncos da lagoa;
Feliz da araponga errante Que é livre, que livre voa.

Que é livre, que livre voa Para as bandas do seu ninho,
E nas braúnas à tarde Canta longe do caminho.
Canta longe do caminho. Por onde o vaqueiro trilha,
Se quer descansar as asas Tem a palmeira, a baunilha.


Trecho de poesia de castro alves

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